O Ser Artista e O
Caminho das Pedras
Davi Bezerra Vieira
Ser artista, definitivamente não
é fácil. Embasado em estudo contínuo e propriedades vivenciadas no mundo
artístico, reitero este pensar, pautado na premissa de que nosso país, ainda precisa, e muito, repensar suas políticas públicas para Cultura.
Será que não existe o interesse
pela arte uma vez que esta exige de o indivíduo pensar e refletir criticamente
de forma simples e autêntica?
Cabe um questionar, também,
sobretudo na visão falha que ainda persiste na massa, que insiste em acreditar
que para ser “artista” tem de estar, ou tornar-se uma figura recorrente na
televisão. Como vez por outra, presencio observações do tipo: É artista
“Global”?
Então, quando escuto algo desta
natureza, me vem um turbilhão de indignações. Indignação em saber que, o Teatro
de Rua, de palco e de mundo, não cabe nesse contexto. Indignação/
questionamentos/interrogações de saber que aqueles cantores forrozeiros
“arretados”, e de outros gêneros, que animam as festas da minha cidade e de
outras muitas, não foram contemplados, isso parece ser um niilismo. Indignação
de perceber, que não ouviram os repentistas e trovadores, que se resguardam em
seus cantinhos e versejam de forma Brilhante e crítica , as belezas e
injustiças de nossa terra. Indignação em perceber que muitos ainda não se
encantaram com os muitos dançarinos, capoeiristas, artesãos, e por aí vai. Em
resumo, Indignação em saber que toda uma classe, de artistas e de arteiros, não
se resguarda sob esse nobre título, pois segundo alguns, não o são, por não se
encaixarem nos moldes e contextos midiáticos.
É orgulhosamente que EU, Artista,
não por opção, mas por paixão, como todos os grandes, conhecidos ou não, me
incluo, e dessa classe faço questão de tecer algumas palavras.
Repito, não é fácil ser artista.
Definitivamente. É uma tarefa desgastante, exige comprometimento, amor à causa,
vivência, renúncia, e muita coragem para trilhar pelo caminho das pedras.
Enquanto parte da diretoria de
uma Cia de Teatro, a Cia Íkarus de Artes Cênicas, minha segunda família, por muitas
vezes vivenciamos obstáculos aparentemente intransponíveis, sejam de ordem
financeira, seja de ordem pessoal, inter-relacionais, e até mesmo de
disponibilidade de tempo. Entretanto, e sugiro aos meus colegas Artistas, buscarmos
ser resilientes. Precisamos ser. Precisamos produzir, criar, astuciar, inventar
e reinventar mesmo na adversidade. Admito, creio que seja na adversidade e conflitos
sociais que todo artista se constrói, e semanticamente, pondero ser a
diversidade o maior trunfo do artista. A diversidade e a adversidade são os
combustíveis para criação!
Aqui em Jaguaribe-CE, cidade em
que finquei minhas raízes e cultivo meus sonhos, verifico essa verdadeira
celeuma de vozes que clamam ser ouvidas e vistas, e que aos poucos, vão
ganhando vez e espaço nos cenários locais, contudo vejo ainda algumas vozes que
se calam, e se emudecem, resumindo seu potencial criador aos recantos mais
escusos. Não falo apenas das vozes, no sentido real, falo das vozes das formas,
do corpo, da criação que enquanto obra, fala por si mesma.
Aos meus colegas sonhadores, diferentes
de todos e com a cara de nossa gente, partilho um pensar, colocando-me
desaforadamente nos mesmos patamares dos “artistas Globais”: Somos grandes no
nosso fazer, seja ele reconhecido por grandes plateias ou não; Somos únicos na
nossa potência criativa, fazemos do real a realeza, dos nossos saberes e
fazeres a marca de todo uma civilidade atemporal.
Caminhemos “Artistas” pelo
caminho das pedras, pelo caminho das dificuldades, dos prejulgamentos, das
portas muitas vezes fechadas, das desilusões e das ilusões. Caminhemos pelo
nosso próprio Rol da Fama, seja no piso de mármore, ou na quadra da escolinha
do bairro, ou no chão batido dos terreiros. Caminhemos, pois se sentimos a
necessidade de ir até o povo, nosso público, nossa plateia, é porque nossa alma
clama por despejar nesta gente o nosso melhor, nossa potência criativa. E admitamos:
todo povo precisa de seus Artistas.
Não, não é fácil ser artista, mas
é necessário. Nossa alma pede! Caminhemos!
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